A ideia que geralmente as pessoas tem sobre a reciclagem do papel é a seguinte: vou comprar papel reciclado para que não devastem tantos bosques, e assim contribuirei positivamente com o meio ambiente. Mas isto é verdadeiro? Realmente a reciclagem de papel tem um impacto menor no meio ambiente? A resposta não é tão fácil como parece.
Por exemplo, se o que queremos é salvar árvores, o efeito parece ser o oposto, segundo Joseph Heath, professor da Universidade de Toronto, e outros analistas. Seu razoamento é o seguinte: há tantas vacas no mundo porque a gente come vacas; se a gente deixasse de comer tanta carne, teria menos vacas, não mais. O mesmo pode ser aplicado às árvores.
Quando se fabrica papel não se devastam “árvores centenárias” senão cultivos industriais, como acontece com o trigo e o milho. De modo que a maneira de incrementar o número de árvores plantadas é que consumamos mais papel, não menos.
A maior parte do papel que se fabrica atualmente procede de florestas sustentáveis. Isto quer dizer, que por cada árvore que se corta, plantam o dobro ou mais. Países como a Suécia, que surpreendentemente tem uma das maiores explorações madeireiras a nível mundial, conseguem assim aumentar sua massa florestal simultaneamente com sua produção. E dado que as normativas atuais relacio0nadas ao meio ambiente exigem muitas coisas como papel livre de cloratos, produção responsável, etc… Resulta que o papel de primeira geração pode chegar a ser mais respeitoso inclusive que o papel reciclado.
Ademais, se jogássemos o papel usado em um antigo poço de mina, em vez de reciclá-lo, estaríamos colaborando, em realidade, com a captura de CO2: tiramos carvão da atmosfera e enterramos no solo. Isto é exatamente o que temos que fazer para combater o aquecimento global. De maneira que reciclar papel não é nada amigável com o planeta, em numerosos sentidos. É lógico reciclar alumínio (como sugere o fato de que é rentável). Mas por que reciclar papel?
Dizer ao público que reciclar papel é bom para a natureza é em realidade muito menos efetivo que impedir as causas reais do desflorestamento, mas é mais barato e muito menos comprometido. A reciclagem de papel reduz o desflorestamento em curto prazo, mas passam por alto as consequências em longo prazo de diminuir os incentivos do reflorestamento.
As pessoas costumam mudar de assunto, censurando que as explorações florestais promovem a monocultura, criticando as práticas de devastação de árvores ou se queixando pelo esbanjamento da sociedade de consumo. Claramente o que falta é uma singela, mas convincente linha de razoamento que defenda as práticas contra a objeção “econômica”.
Por não ser especialista no assunto, busquei por réplicas à crítica contra a reciclagem de papel e descobri que a principal justificativa de muitos defensores do meio ambiente contras estas florestas sustentáveis são piores do que as florestas naturais em muitos aspectos. As florestas plantadas não podem consertar o solo tão rápido como as naturais, causando a erosão do solo e precisando com frequência de fertilizantes para se manter, além de conter menor biodiversidade que as florestas virgens. Será que é uma boa réplica?
Em 2008, um relatório do Instituto de Engenheiros Mecânicos do Reino Unido perguntava-se se a reciclagem é sempre a melhor opção? A resposta era que se não houvesse demanda para os materiais reciclados, não valeria a pena fazê-lo já que se gasta mais energia e são emitidos mais gases de efeito estufa durante o processo de reciclagem dos que se emitiriam ao manufaturar um novo produto.
A pergunta que não quer calar é: será que a reciclagem está usada mais como uma ferramenta para limpar consciências do que como um sistema de poupança de recursos?
Fonte: ndig.com.br